D. J. R. Filho1,
B. S. Moreira1, M. C. de Carvalho 1 , C. F. Almeida ²
Fl. 17 Qd. 04
Lt. Especial. CEP: 68503-550 - Marabá – PA, Brasil.
1 Universidade Federal do
Pará 2 Siderúrgica Norte
Brasil SA. (Sinobras)
RESUMO
O Lingotamento Contínuo
de aços é um processo de fundição utilizado com a finalidade de aumentar a produtividade,
economia de energia e mão de obra, pelo fato de ser um processo que favorece
uma produção em larga escala, o mesmo fica sujeito a diversos defeitos no
produto como os de forma, superfície e internos. Este trabalho analisou o
defeito interno de bolhas tubulares “Blowholes",
relacionando aos efeitos operacionais
em uma máquina de lingotamento continuo de tarugos produzidos em uma usina
siderúrgica, a formação de defeitos de blowholes e sua influencia a qualidade
dos produtos laminados. Observou-se doze corridas que apresentaram este
defeito, verificando os fatores operacionais que influenciaram a formação e
sucateamento de cerca de 1 corrida/mês. O objetivo deste trabalho é determinar
os principais fatores operacionais na formação deste defeito e criar um plano
de ação para reduzir a quantidade de sucateamento, melhorando a qualidade final
dos produtos lingotados.
Palavras-chave: blowholes,
lingotamento contínuo, parâmetros operacionais.
INTRODUÇÃO
O
processo de lingotamento contínuo é um processo de transferência de calor, no
qual o metal líquido é transformado via solidificação em um produto sólido
semi-acabado. O processo é utilizado na produção de chapas e tiras de um grande
número de ligas de metais não ferrosos, o qual é responsável por cerca de 90 %
de todo aço produzido no mundo (1).
O
produto do processo de lingotamento contínuo é chamado de lingote, estese
caracteriza por ser um material homogêneo físico e quimicamente, sem inclusões,
cavidades, porosidade, entre outros. Pela impossibilidade de obter um lingote
ideal no processo de solidificação, a grande importância no processo é estudar
e conhecer as características da solidificação a fim de reduzir ao máximo a
ocorrência de defeitos que podem ser classificados em internos, superficiais e
de forma.
Quando
surgem defeitos nos tarugos de lingotamento contínuo, surgem durante a fase de
solidificação e resfriamento do aço, eles podem afetar a qualidade dos produtos
acabados e, portanto, é importante que sejam corretamente identificados, para
que sejam tomadas medidas corretivas para evitar a ocorrência de má qualidade (2).
Os defeitos internos "internal defects" são em sua grande maioria
oriundos de uma má formação na estrutura bruta de solidificação do lingote
produzido em máquinas de lingotamento contínuo, sedo os mais conhecidos a
porosidade interna, macro inclusões, Blowholes, Pinholes, trincas "off
corner" etc (3).
Os
defeitos de bolhas em tarugos produzidos por lingotamento contínuo são conhecidos como Blowholes e Pinholes, ambos oriundos
do desprendimento de gás do aço, conhecido como defeitos grosseiros, logo
abaixo da superfície e bastantes comuns para todos os aços semi acalmados
lingotados com óleo (4).
O presente trabalho tem
por objetivo determinar os principais fatores operacionais na formação de
defeitos internos de solidificação Blowholes em tarugos de aço médio carbono na
siderúrgica Sinobras, verificando sua influência no processo de laminação do vergalhão
para construção civil, bem como elaborar um plano de ação para redução do material
sucateado com defeitos de Blowholes no processo de lingotamento contínuo em
Aciaria Elétrica EAF.
MATERIAL E MÉTODOS
Material
O aço estudado foi o ABNT SAE 1024 obtida em forno elétrico
EAF a partir da fusão de sucata e gusa líquido. Após a fusão e refino, o aço é
tratado quimicamente em forno panela com adição de ligas e gases (nitrogênio e
argônio). O mesmo é lingotado em máquina de lingotamento contínuo de 13
toneladas com 3 veios na faixa entre 1526 a 1565°C. Após completa solidificação
é realizado corte, separação e inspeção da qualidade do material para o processo
de laminação de vergalhões com bitolas variadas.
Tabela 1 – Composição Química do aço ABNT SAE 1024
Constituintes
|
C
|
Si
|
Mn
|
S
|
P
|
Cu
|
N
|
C Eqv.
|
Composição
|
0,22 - 0,28
|
0,15 - 0,30
|
0,60-0,90
|
0,00-0,05
|
0,00-0,05
|
0,00- 0,40
|
0,00-0,01
|
0,371
|
Parâmetros do
Processo
Foram analisadas doze corridas que apresentaram blowholes na
inspeção off line entre 20/04/2012 a 20/08/2012. Foram cortadas 2 peças de cada
corrida nas quais foram submetidas a cortes transversais e lixamento. Após a identificação dos defeitos
foram feitas buscas das condições operacionais da produção das mesmas,
verificando as seguintes características: Tempo elevado de processamento da
corrida no Forno Panela; Baixa desoxidação do aço ( Nível de H,N,CO no aço ); Fatores
externos favorecendo o excesso de gases no aço; Óleo de lubrificação do molde
em excesso e/ou umidade no óleo; Tempo de secagem do distribuidor inadequado; Tempo
de secagem da panela inadequado;
De acordo com as corridas que apresentaram blowholes pode-se
verificar o grau de influencia do surgimento de defeitos no processo conforme Fig.
01.
Figura 1: Diagrama de
Pareto das principais causas na formação de Blow holes
Tempo de secagem do
distribuidor e da panela
O tempo de secagem do distribuidor é determinado pela natureza
do material refratário projetado no mesmo e sua capacidade volumétrica. Devido
as condições dos aquecedores utilizados não é possível um controle térmico exato
em função do tempo de aquecimento. O tempo de secagem da panela é determinado
pelas características dos tijolos de trabalho, tamanho da panela, temperatura
da chama dos aquecedores. No trabalho realizado foram analisadas em panelas de
aço com tijolos dolomíticos.
Tempo de
processamento da corrida no forno Panela
O tempo de processamento da corrida no forno panela nas
corridas foi analisado mediante supervisório de controle operacional do forno
panela.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tempo de secagem do distribuidor
A
secagem do distribuidor pode ser definida como a etapa de retirada de toda água
usada na aplicação da massa de cobertura. Quando a secagem é deficiente por má
distribuição dos queimadores, ou não segue a curva padrão sugerida pelo
fabricante de refratários, pode-se ter queda de partes da parede durante a
etapa posterior de pré-aquecimento do distribuidor. A Fig. 2 mostra um gráfico de aquecimento para um distribuidor com
tijolos permanente e massa de projeção nova, sendo usado cerca de 60 minutos
para secagem e 120 minutos para aquecimento.
Figura 2: Gráfico de aquecimento para distribuidor
A
figura 3 mostra uma curva de aquecimento para massa de cobertura em função da
temperatura verificada a 30 e 40 mm em relação à interface
cobertura/permanente. A figura mostra em um tempo de 180 minutos a temperatura
mínima de 500°C para encharque térmico nas paredes dos tijolos de trabalho.
Figura 03: Curva de aquecimento da massa de cobertura
Um processo deficiente no processo de secagem
e pré-aquecimento pode permitir a presença de umidade residual em parte do
revestimento, gerando posteriormente um aumento do “pick-up” de hidrogênio no
aço como mostra Fig. 4. Dependendo das características de isolamento da massa,
quanto maior a espessura, maior a diferença entre a temperatura na face quente
e na interface massa de cobertura/revestimento permanente, dificultando a remoção
de umidade.
A
presença de umidade no revestimento permanente deve merecer também cuidados
especiais. Durante a campanha deste revestimento, pode-se ter absorção de
umidade devido a reparos parciais, ou até mesmo condensação de água no mesmo
durante a secagem do revestimento de trabalho. É prática usual aplicar a massa
de reparo e a massa de cobertura sobre o revestimento permanente um pouco
quente, promovendo uma secagem de dentro para fora no refratário. O uso de chama muito oxidante por longo tempo pode oxidar ou acelerar a
queima de componentes presentes na massa de cobertura, reduzindo a sua
eficiência de isolamento e criando tensões superficiais, devido a rápida
evolução da temperatura na superfície em relação à camada mais interna. Este
fenômeno pode provocar trincas superficiais na massa, que em algumas situações
pode comprometer a performance do revestimento de trabalho.
Figura 04: Curva de pick up de hidrogênio no aço em função da
quantidade de aço lingotado
A partir do tempo de
secagem do distribuidor das corridas que apresentaram blowholes determinou-se um
tempo curto de secagem e preaquecimento de 2 horas que favorece o pick up de hidrogênio
do aço. Na Fig. 6 (e,f,g) mostra as amostras de tarugo cortadas que tiveram
blowholes graves devido a tempos curtos de secagem possivelmente por desarmes
no equipamento e baixa temperatura da chama. Como sugestão de melhoria
propõe-se uma revisão dos componentes elétricos e troca do bico de gás por um
de melhor qualidade.
Tempo de secagem da panela
O índice de encharque IE
das panelas é uma forma de representar a medida da energia contida dentro das
paredes refratárias (MWh), este valor depende do tamanho das panelas, dos
refratários utilizados e da temperatura da chama dos aquecedores, esta energia
tem como referência o equilíbrio térmico com aquecedor ( aproximadamente 12
horas ) que significa 100% do IE. O aquecimento da panela obedece uma etapa de
secagem que é caracterizada pela intensa saída de vapor pelos furos da chapa
metálica, quando cessa a saída de vapor ,é sinal que o período de secagem está
no fim, a curva de secagem é lenta de modo a permitir a saída sem danificar
(trincas) ou tijolos ou massas. Após essa etapa, inicia-se o aquecimento do
revestimento, que obedece curvas características conforme a composição química
dos tijolos.
As corridas analisadas com
blowholes médios eram oriundas da primeira corrida de uma panela nova. Verificando
o tempo gasto no aquecimento de aproximadamente 6 horas em aquecedor vertical com
chama alta seguida de 4 h em aquecedor horizontal. Com esse tempo de
aquecimento em panelas dolomíticas estima-se um IE 98% que seria suficiente
para um processamento sem problema do aço de acordo com o IE ideal para o
processo como mostra Fig. 05.
Figura 05: Curva de pick up de hidrogênio no aço
Entretanto verificou-se
que a temperatura da chama não permanecia constante em função de falhas
elétricas no aquecedor e variações na pressão de combustível, além da
dificuldade do gradiente térmico com o tempo devido a falta de dados
confiáveis. Foi verificada junto com uma empresa especializada em gases a
substituição do aquecedor vertical por um a GLP com controle automático do taxa
de aquecimento com a temperatura.
Tempo de processamento no Forno Panela
De acordo com o supervisório foi analisada pequenas variações
entre 24 à 30 minutos de forno ligado, exceto para uma corrida analisada que
teve tap to tap acima de 45 minutos, sendo cerca de 10 minutos a rinsagem com nitrogênio.
Amostras
As Figuras 6 a, b, c
mostram a secção transversal de tarugos com blowholes leves das corridas
1202881,1203581 dos dias 19/5 e 20/6 e as figuras 6 d,e,f mostram a secção
transversal de tarugos com blowholes médio e graves das corridas 1202637 e
1203324 dos dias 09/05 e 08/06. Observou-se que as cavidades estão localizadas
logo abaixo da superfície do tarugo e distribuídas ao longo do perímetro
subcutâneo da secção transversal.
Figura
07: (a)
Corrida 1202637 de 19/05 com blowholes leves; (b) Corrida 1203581 de 20/06 com
blowholes leve; (c).
Figura
08: (a)Corrida
1202637 de 09/05 com blowholes médio; (b) e (c) Corrida 1203324 de 08/06 com
blowholes graves.
Influência na laminação
As peças que apresentam bolhas situadas muito
próximas da superfície do tarugo, podem se abrir e causar o aparecimento de
pequenas fissuras alongadas descontínuas, distribuídas aleatoriamente pela
superfície dos produtos acabados. Caso as bolhas estejam localizadas a
profundidades > 5 mm da superfície do tarugo, poderão ser caldeadas durante
a Laminação e irão praticamente desaparecer nos produtos acabados. A Fig. 07
mostra produtos que foram laminados com peças com blowholes médios e/ou graves,
nota-se que a presença desse defeito provocou um desbaste irregular deixando o
vergalhão com lascamentos e trincas comprometendo sua qualidade.
Figura 09: Amostra de vergalhão
laminado apresentando lascamento e trincas
CONCLUSÕES
A partir do trabalho
realizado pode-se concluir que:
·
Os
principais parâmetros na formação de bolhas subcutâneas são a ineficiência de
curvas de secagem de panelas e distribuidores por deficiência em seus
queimadores, vindo a prejudicar a qualidade de deus produtos além de reduzir a
vida útil de seus respectivos refratários. E a presença de fontes externas para
aumento principalmente do hidrogênio é muito presente na siderúrgica,
principalmente na área do lingotamento e forno panela, onde apresenta uma má
estocagem da palha de arroz e cal.
· A baixa desoxidação do aço em algumas
corridas também é presente principalmente pelo tempo curto de processamento no
forno panela devido ao sincronismo do Forno Elétrico com o lingotamento
Contínuo, uma sugestão para melhorar esta desoxidação era o uso de alumínio
metálico em fios no molde, ou a liga CaSi que é um excelente desoxidante no
forno panela. O óleo de lubrificação do molde estava dentro do padrão
estabelecido entre 50 a 65 g/ton pelo amassamento da mangueira de lubrificação do
molde
· O tempo de processamento elevado no forno
panela também favorece o acumulo de gases no aço principalmente pela
necessidade da rinsagem na panela com aço; A presença de blowholes tem
uma influencia direta no processo da laminação provocando falha no desbaste do
material gerando sucata e paradas no processo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade
Federal do Pará (UFPA) e Faculdade de Engenharia de Materiais (FEMAT) e a
equipe de Lingotamento Contínuo da Sinobras.
REFERÊNCIAS
(1) IRVING,W.R.;Continuos casting of steel.The institute of Materials,1993.
(2) LASHERAS,J.M;Tecnologia del Acero,1959, Imprenta Estilo,S.A.,Zaragoza.
(3)
POLUKHIN, P. Metal Process Engineering.1969,Mir Publishers.
(4)
CRAMER, Hans. Defeitos Superficiais em Produtos de
Laminação (trad.)1989,Stahl und Eisen.
(5)
OVACO,J.D.Different Types
of Defects in Continuously Cast Billets,1993,Ovako/Suecia.
(6) THOMAS,B.G;Continuous Casting Yearbook of scienci and technology,Mc
Graw-Hill,2004
(7) BILBAO,J.L.A.Procesos
avanzados de produccion de acero,1994. Publicaciones de la escuela técnica
superior de ingenieros industriales y de telecomunicacion,Universidad del País
Vasco,Bilbao.
(8) GARCIA,A.,SPIM,A.,SANTOS,C.A.D,CHEUNG,N.Lingotamento
Contíno de Aços,2006.São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais.
(9) THOMAS,B.G.,Continuous
Casting,The Encyclopedia of materials: Science and Technology.Vol.2.2001,UK:Elsevier
Science Ltda.,Oxford.
(10) VALADARES, C. A. G.; et. al.. Estudo
da solidificação no molde de lingotamento contínuo. Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento da Usiminas, 1986. (Relatório Interno de P & D
número RPCR0065).
ANALYSIS OF PROCESS PARAMETERS IN THE FORMATION
OF INTERNAL DEFECTS BLOWHOLES IN STEEL BILLETS OF MEDIUM CARBON
ABSTRACT
The Continuous
Casting of Steel casting is a process used for the
purpose of
increasing the productivity, saving energy and workmanship, because it is a process that favors a large
scale production, it is subject to several defects in the product such as shape,
surface and
internal. This
study examined the internal defect of slugs "Blowholes", relating to the effects of operating in a continuous casting machine billet produced in a steel plant, the formation of blowholes defect and its influence on product quality laminates. Observed twelve races that showed this defect verifying the operational
factors that influenced the formation and scrapping of about 1 race/month. The objective of this study is to determine the principal operating factors in the formation of this defect and create an action plan to
reduce the amount.
Key-words: blowholes, continuous
casting, operating
parameters.
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